segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

ESTAÇÃO CARANDIRU

    Ooi pessoal, vou escrever sobre um livro que até hoje rende muito assunto...
                                  
                                                ESTAÇÃO CARANDIRU




Em Estação Carandiru, o médico Dráuzio Varela relata o que viu durante o período em que realizou um trabalho voluntário de prevenção da AIDS no Complexo Penitenciário do Carandiru, em São Paulo. Mostra como o presídio se tornou um mundo à parte da sociedade, com leis criadas pelos próprios detentos e que devem ser seguidas à risca, sob pena de espancamento e até morte.

Referindo-se `a sua atividade de médico infectologista, o Dr. Dráuzio e sua equipe entrevistaram e colheram amostras de sangue de 2492 detentos e constataram que 17,3% dos presos da casa de detenção estavam infectados pelo vírus HIV. Os fatores de risco eram: uso da cocaína de parceiros sexuais. Dos 82 travestis presos na casa de detenção, 78% eram portadores do vírus.
Cada pavilhão tem sua clientela própria. O critério da distribuição obedece às regras básicas. Exemplo: art. 213 – estupro – é encaminhado para o pavilhão cinco; reincidentes, no oito; primários, nove. Os raríssimos universitários vão morar nas celas individuais do pavilhão quatro. Este poderia ser o mais privilegiado. Contém menos de quatrocentos presos. Deveria abrigar, além dos universitários, o Departamento de Saúde e Enfermaria. Mas, por necessidade de proteção aos marcados para morrer, a direção se viu obrigada a criar um setor especial, no térreo, denominado “Masmorra”, de segurança máxima.
A partir dos anos 80, foi aceita a prática das visitas íntimas com mulheres de maioridade comprovada, previamente registradas com identificação e foto. Cada detento tem direito a inscrever uma única mulher. Não há exigência de laços legais, podendo ser esposa, amásia, ou namorada. O ambiente é de muito respeito. Quando um casal passa, todos abaixam a cabeça. Não basta desviar o olhar, é preciso curvar o pescoço. Ninguém ousa desobedecer esta regra, seja ela a esposa, a noiva ou uma prostituta.
O autor descreve a divisão dos presos pelos nove pavilhões, cada um com cinco andares: 
Também para o pavilhão quatro são encaminhados, por questão de segurança, os estupradores, os justiceiros contratados por comerciantes para matar ladrões nos bairros comercias. Ali, os praticantes desses delitos têm mais chance de escapar da ira coletiva ( linchamento).
     cada pavilhão comporta um tipo de preso. Dráuzio Varella reuniu cerca de sessenta pequenas histórias sobre a vida daqueles que cumpriam pena no Carandiru. Talvez sem ter noção exata da importância do que estava fazendo, Drauzio escreveu um livro fundamental, leitura obrigatória para quem quer conhecer o exato significado da marginalização social.
Fala das regras que eles mesmos se impuseram, dos códigos de comportamento. Conta como alguns presos são trancafiados em celas para doentes mentais sem que lá exista um psiquiatra competente para fazer tal diagnóstico. Mostra a influência da religião no local e de como é numeroso o grupo dos evangélicos, facilmente reconhecíveis pelas roupas de mangas compridas, sempre abotoadas até a gola e pelas Bíblias desbotadas embaixo do braço.
A pregação dos pastores evangélicos, que apontam os caminhos do céu pelo conhecimento da Bíblia e de uma divisão clara entre o bem e o mal, obtém sucesso e acolhe muitos seguidores. Destaca-se na casa o grupo coeso da Assembléia de Deus que congrega cerca de mil fiéis. Todavia há entre eles, aqueles que as vezes fingem se converter para contar com a proteção do grupo religioso e tirar proveito próprio. Como usam as mesmas roupas, carregam a Bíblia e repetem o nome do Senhor a cada frase, é difícil distingui-los dos crentes de verdade.
Não deixa de falar, é claro, do episódio conhecido como o Massacre do Carandiru, ocorrido em outubro de 1992. Para deter uma rebelião no presídio, a polícia invadiu o local com cães, metralhadoras e escopetas, matando mais de 100 detentos. O então governador do estado, Fleury Filho, definiu a ação como uma operação policial para conter uma briga de quadrilhas.

Num dos últimos capítulos de Estação Carandiru, o autor analisa a situação do “Sem–Chance”. Este personagem representa genericamente as circunstâncias, o tempo e o lugar ocupados por um presidiário. Seu primeiro crime, a prisão, a fuga, a reincidência no crime, a escola do mal existente na prisão de onde o criminoso saiu pior do que entrou etc.
“Com mais de 20 anos de clínica, foi no meio daqueles que a sociedade considera como escória que percebi com mais clareza o impacto da presença do médico imaginário humano, um dos mistérios da minha profissão”, diz o Dr. Varella.

                                                                                  Por: Mariana Assis Parra.

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