Ooi pessoal, vou escrever sobre um livro que até hoje rende muito
assunto...
ESTAÇÃO CARANDIRU
Em Estação Carandiru, o médico Dráuzio Varela relata o que viu durante
o período em que realizou um trabalho voluntário de prevenção da AIDS no
Complexo Penitenciário do Carandiru, em São Paulo. Mostra como o presídio se
tornou um mundo à parte da sociedade, com leis criadas pelos próprios detentos
e que devem ser seguidas à risca, sob pena de espancamento e até morte.
Referindo-se `a sua atividade de médico infectologista, o Dr. Dráuzio e sua equipe entrevistaram e colheram amostras de sangue de 2492 detentos e constataram que 17,3% dos presos da casa de detenção estavam infectados pelo vírus HIV. Os fatores de risco eram: uso da cocaína de parceiros sexuais. Dos 82 travestis presos na casa de detenção, 78% eram portadores do vírus.
Referindo-se `a sua atividade de médico infectologista, o Dr. Dráuzio e sua equipe entrevistaram e colheram amostras de sangue de 2492 detentos e constataram que 17,3% dos presos da casa de detenção estavam infectados pelo vírus HIV. Os fatores de risco eram: uso da cocaína de parceiros sexuais. Dos 82 travestis presos na casa de detenção, 78% eram portadores do vírus.
Cada pavilhão tem sua clientela própria. O critério da distribuição
obedece às regras básicas. Exemplo: art. 213 – estupro – é encaminhado para o
pavilhão cinco; reincidentes, no oito; primários, nove. Os raríssimos
universitários vão morar nas celas individuais do pavilhão quatro. Este poderia
ser o mais privilegiado. Contém menos de quatrocentos presos. Deveria abrigar,
além dos universitários, o Departamento de Saúde e Enfermaria. Mas, por
necessidade de proteção aos marcados para morrer, a direção se viu obrigada a
criar um setor especial, no térreo, denominado “Masmorra”, de segurança máxima.
A partir dos anos 80, foi aceita a prática das visitas íntimas com
mulheres de maioridade comprovada, previamente registradas com identificação e
foto. Cada detento tem direito a inscrever uma única mulher. Não há exigência
de laços legais, podendo ser esposa, amásia, ou namorada. O ambiente é de muito
respeito. Quando um casal passa, todos abaixam a cabeça. Não basta desviar o
olhar, é preciso curvar o pescoço. Ninguém ousa desobedecer esta regra, seja
ela a esposa, a noiva ou uma prostituta.
O autor descreve a divisão dos presos pelos nove pavilhões, cada um com
cinco andares:
Também para o pavilhão quatro são encaminhados, por questão de
segurança, os estupradores, os justiceiros contratados por comerciantes para
matar ladrões nos bairros comercias. Ali, os praticantes desses delitos têm
mais chance de escapar da ira coletiva ( linchamento).
cada pavilhão comporta um
tipo de preso. Dráuzio Varella reuniu cerca de sessenta pequenas histórias
sobre a vida daqueles que cumpriam pena no Carandiru. Talvez sem ter noção
exata da importância do que estava fazendo, Drauzio escreveu um livro
fundamental, leitura obrigatória para quem quer conhecer o exato significado da
marginalização social.
Fala das regras que eles mesmos se impuseram, dos códigos de
comportamento. Conta como alguns presos são trancafiados em celas para doentes
mentais sem que lá exista um psiquiatra competente para fazer tal diagnóstico.
Mostra a influência da religião no local e de como é numeroso o grupo dos
evangélicos, facilmente reconhecíveis pelas roupas de mangas compridas, sempre
abotoadas até a gola e pelas Bíblias desbotadas embaixo do braço.
A pregação dos pastores evangélicos, que apontam os caminhos do céu pelo
conhecimento da Bíblia e de uma divisão clara entre o bem e o mal, obtém
sucesso e acolhe muitos seguidores. Destaca-se na casa o grupo coeso da
Assembléia de Deus que congrega cerca de mil fiéis. Todavia há entre eles,
aqueles que as vezes fingem se converter para contar com a proteção do grupo
religioso e tirar proveito próprio. Como usam as mesmas roupas, carregam a
Bíblia e repetem o nome do Senhor a cada frase, é difícil distingui-los dos
crentes de verdade.
Não deixa de falar, é claro, do episódio conhecido como o Massacre do
Carandiru, ocorrido em outubro de 1992. Para deter uma rebelião no presídio, a
polícia invadiu o local com cães, metralhadoras e escopetas, matando mais de
100 detentos. O então governador do estado, Fleury Filho, definiu a ação como
uma operação policial para conter uma briga de quadrilhas.
Num dos últimos capítulos de Estação Carandiru, o autor analisa a situação do “Sem–Chance”. Este personagem representa genericamente as circunstâncias, o tempo e o lugar ocupados por um presidiário. Seu primeiro crime, a prisão, a fuga, a reincidência no crime, a escola do mal existente na prisão de onde o criminoso saiu pior do que entrou etc.
Num dos últimos capítulos de Estação Carandiru, o autor analisa a situação do “Sem–Chance”. Este personagem representa genericamente as circunstâncias, o tempo e o lugar ocupados por um presidiário. Seu primeiro crime, a prisão, a fuga, a reincidência no crime, a escola do mal existente na prisão de onde o criminoso saiu pior do que entrou etc.
“Com mais de 20 anos de clínica, foi no meio daqueles que a sociedade
considera como escória que percebi com mais clareza o impacto da presença do
médico imaginário humano, um dos mistérios da minha profissão”, diz o Dr.
Varella.
Por: Mariana Assis Parra.
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